Passei tempos e momentos em uma
busca tortuosa, em encontros sem propósito, perpassando vidas, me mantendo em
algumas por puro cansaço... Quando havia me engajado em outro meio de entrega
ao desconhecido, obviamente no intento de me perder de uma vez, vi sua imagem e
da perdição fui empurrada a descoberta.
Eram olhos de mistério que me prendiam a
encará-los sem conseguir decifrá-los... eram lábios que despertaram um desejo
de neles pousar os meus para nunca mais beber de outra fonte... era um sorriso
de liberdade que dissipou todos os meus receios do cárcere. Tudo se fez enlace
no âmago quando conversamos, eram sorrisos, trocas, novidades, entusiasmo e
isso me fez menos errante em dúvidas.
Então em uma noite clara e ébria
te vi pessoalmente, fiquei hipnotizada por cada movimento seu... tão forte e
marcante, uma energia vibrante de vida que há muito buscava. Nesse momento me
perdi. Paralisei. Não tinha ideia de como faria para fazer o encontro
acontecer, porque você era movimento puro e eu estava anestesiada e de coração
manco.
Quando, de forma infantil e
desastrada, consegui clamá-la em meio às pessoas como sendo minha e assim
beijá-la... foi como se um raio atinge-se meu corpo. Não queria largá-la nunca
mais. Era o gosto mais inebriante e real que já havia provado... estava
enfeitiçada... entregue, ao mesmo tempo apavorada, pela ausência de gravidade
que me fizesse colocar os pés no chão. Quando a perdi naquela noite, me senti
como uma criança em meio à multidão em um lugar insalubre e perigoso. Mas você
reapareceu e todo o resto deixou de existir... só havia tudo em mim entregue ao
espaço do seu abraço e o alívio dos seus beijos.
Nossa primeira noite de amor foi
de um prazer que nunca havia experimentado. Nunca tinha visto tanta beleza,
sentido tanto calor. Meu corpo parecia estar sendo tocado pela primeira vez.
Nunca fui responsável pelo prazer do outro, mas naquela noite você me entregou
as rédeas do seu corpo e mesmo perdida, fiz o que o meu sentia do seu e a união
disto me quebrou por dentro. Algo em mim amanhecia como naquele dia, mas, tal
como, ainda em meio à chuva.
Fiquei assustada, não acreditava
que tudo aquilo em mim pudesse ser real... Quis me perder novamente em vazios,
porque eram mais seguros por serem prazeres fugazes, incapazes de fazer alguma
marca. Arrisquei fazê-lo... porém, algo em mim já estava lutando contra a
negação.
Cedi e percebi que meu ego
superprotetor já não estava mais no controle. Ele se rendeu a você. A ansiedade
dele era por você, as tentativas dele eram para trazê-la para perto, arriscando
sua integridade orgulhosa para se ajoelhar ao seu comando. Até que em certa
noite de luar, o sinal que precisava para me lançar no abismo do amor se deu. Você
se entregou de alma e as lágrimas advindas dela inundaram tudo em mim... limpou
toda a resistência e o desejo de nadar rumo a profundidade encontrou eco.
Então nos lançamos na estrada,
era como uma fuga... uma viagem para algo familiar e a muito procurado. Estava
segura, certa de que era ao seu lado que queria estar, como se ali já estivesse
antes, como se fosse esta a morada que estava ávida em ter pouso. Até que
naquela noite, sua alma chorou novamente... mais forte, totalmente
transparente...indefesa... insegura... mas despida. Então tudo fez sentido. Os alertas que ressoavam em mim... os
alertas de dois amigos... tudo se somou e ressoaram aos berros quando a vi
nesta entrega.
Deus! Senti o desejo de muitas
vidas e com isso minha alma despertou... se rendeu e de alegria chorou. Era você, a melodia que eu ouvia em sussurro,
me chamando, mas que não conseguia identificar ou alcançar. Era você, o cheiro
que sentia, e me fazia me perder em saudade. Era você, a presença que me inquietava
e me tornou errante em buscá-la. Era você, aquela que havia perdido, que
escapou entre os dedos, e que fazia com que eu vivesse em uma constante
autopunição e sabotagem, por tal erro imperdoável. Foi arrebatamento perceber que você estava ali, diante de mim, me querendo em sua
vida novamente.
Desde então estou inundada de
você... beijá-la ou simplesmente olhá-la me faz querer permanecer acordada para
sempre, por puro medo de perder um instante sequer deste êxtase. Meu querer é
tão intenso que somente demonstrando você entenderia. Minha necessidade de você
é insaciável e definitivamente estou reaprendendo a graça das outras questões
da vida, porque meu pensamento esta aficionado, tudo esta se resumindo a você.
Meu corpo grita pelo seu. Minha alma pela sua. Minha vida pela sua presença.
Por isso, resolvi te contar o que
esta por trás de cada olhar, de cada sorriso, de cada expressão em mim. Porque o
mistério deve ser caminho acessível ao desejar e não labirinto de perda. Por isso,
te contarei a simples resposta: Nós. Tudo o que você vê é Nós, em todas as intensidades e
vibrações que os sentimentos podem adotar quando diante de um mestre tão
poderoso, o completo amor.
As nuances das vidas que vaguei te procurando, te encontrando e
te perdendo, me ensinaram o que fazer quando diante desse encontro, desta que
parece ser uma última chance: se render, sendo a melhor que poderia ser para
nós. Então me receba... me tenha... Porque
você me conquistou em cada entardecer e por isso a cada amanhecer serei sua.
Hoje minha alma vive no ritmo do meu coração, porque nele está você. Hoje sei o
que é sentir, o amar mais do que ontem e menos do que amanhã. Digo estas três
conclusões, porque um dia as disse para outro alguém de forma leviana, não em
tom de declaração, mas de orientação, caso quisesse provar que era quem buscava... fui cruel em fazê-lo, todavia somente agora compreendo que eram os
estágios que precisava sentir, para que soubesse que havia encontrado quem havia perdido... e sem sombra de dúvidas, agora em afirmativas de declaração, minha busca era você aroeira... você é a
minha amada imortal. E hoje posso transformar minhas lágrimas em vinho para brindar este reencontro.