segunda-feira, 14 de maio de 2012


ENTRELINHAS DA SAUDADE


Devemos entender que Deus nos deu três ferramentas para compreendermos o nosso existir: O tempo, a vida e a morte.

Sob o tempo ninguém tem controle, embora passemos a vida tentando ter este poder, para no fim, aprendermos que o tempo só é plenamente aproveitado quando não tentamos ser senhores dele e sim súditos pacientes e abertos as aprendizagens que os seus tic tacs têm a nos ensinar.  Já pararam para pensar em quanto tempo perdemos planejando e correndo atrás do que imaginamos que devemos ser? Sonhando com coisas que iremos fazer  "se" um dia acontecer ou realizarmos isso ou aquilo? Nos limitamos a frações temporais: Passado, presente e futuro  e a metas que atendem mais as expectativas de outrem do que a nossa. Ficamos nesse círculo vicioso ao ponto de nos esquecermos que são milésimos de segundos incomputáveis, que separam o que chamamos de passado, presente e futuro e que na verdade estas três frações são parte do todo essencial: O agora! Perdemos tanto tempo tentando ser o que não gostamos, para ter o que não precisamos, para agradarmos pessoas que não admiramos, para no fim, morrermos sem sequer saber quem realmente somos. Então pense: Como eu encaro o tempo e o que estou fazendo com ele?

A vida, quando nos é dada é fluída e cheia de possibilidades. Contudo, a nossa prepotência humana nos leva a, infantilmente, insistirmos em incorrer no erro de limitá-la aos nossos sistemáticos e neuróticos planejamentos, que na grande maioria das vezes, visam apenas o crescimento material, a constituição de um status quo que alimente o nosso ego com os aplausos sociais e à relações vazias de amor e sentimento. O capitalismo fluído, nos tornou produtos a serem consumidos por nós mesmos. Não é atoa que desejamos estar cada dia mais belos, saudáveis, jovens, ricos e "lustrosos" socialmente. Não é assim que um produto atrativo e cobiçado de uma prateleira deve estar? Com isso, consumismo nossos companheiros, nossos amigos, os animais, a natureza... a nós mesmos, até que não reste nem uma gota da essência do espírito e nada mais faça sentindo e assim como um objeto ultrapassado, descartamos os outros e por vezes a nós mesmos. É neste movimento que complicamos a vida que em sua essência é muito simples. Pense: O que é a vida para mim e como a estou vivendo?

E por fim nos foi dada a morte. Ela é a vida que não entendemos e que  por isso delegamos ao posto de ausência de vida, perda abominável, o lado obscuro do existir que deve ser ignorado. Mas esquecemos que é a morte quem nos lembra quem somos. Com  a angústia que ela nos provoca somos instigados a buscar a essência das coisas, para que venhamos a conhecer o que desejamos, quem somos e para que viemos ao mundo. Graças as perdas que ela provoca acordamos para o fato que o tempo e a vida nos dão pessoas e que a nossa missão é valorizá-las e aprendermos o máximo que pudermos com elas, sem julgar o modo delas de existir, porquê, se elas existem daquele jeito e estão ao seu lado é porque você deve aprender algo novo e também ensiná-las. A morte nos mostra que a vida é feita de trocas e que sem o outro, não seríamos nada. Não é isso que sentimos quando perdemos um ente querido na morte? Não é angustiante perceber que antes você dizia: "Amanhã eu vou ver fulano. Irei a casa dele." e que depois da morte deste, você não tem mais o tempo e o espaço para encontrar a pessoa que deseja ao seu lado? Não é difícil perceber que esta pessoa não esta no amanhã dos seus planos e que ela não faz mais parte de um locus, onde, poderá encontrá-la? Por que então só damos valor a um ser quando perdemos o controle sobre o tempo e espaço que nos possibilita tê-lo ao nosso lado? Porque não fazê-lo quando esta pessoa ainda esta viva no tempo e no espaço terreno? Porque adoramos controlar tudo!! O tempo, a vida, o espaço e as pessoas, com isso, perdemos a maravilha incontrolável que é o agora. Se sentir vontade de beijar, encontrar, amar, rir, visitar, brigar, fazer as pazes, em fim, de existir com alguém que ama, não deixe para fazê-lo no amanhã, em tal lugar, de tal forma - como se você realmente tivesse controle dessas instancias, porque não temos! Então pense: O que é a morte para mim? O que aprendi com as perdas que ela me causou?


Em fim.... depois de tudo isso sei que eu e vocês, apesar dos ensinamentos que o existir nos dá, ainda iremos racionalizar, nos dizendo repetidamente que o melhor é seguir a lógica do mundo que nos cerca, este que nos vê como meros objetos e que nos engana dizendo que temos controle sobre o tempo, a vida e a morte. Iremos continuar nos cegando para nos sentirmos seguros em nossas posses, para que sejamos aceitos e admirados em nossa ignorância, por uma sociedade igualmente cega. Mas, até quando iremos nos preocupar em termos ao em vez de sermos? 

Saudades dos que se foram... todos os dias sentimos os buracos que eles deixaram. Mas, foi me permitindo sentir essa saudade que me apercebi dos ensinamentos que a vida deles ao nosso lado nos deixaram e para aos quais, na correria da vida, esquecemos de nos atentar. Percebi, além das coisas que relatei, que devemos aprender a ser animados e cheios de energia positiva como foi o vovô Orestes, que não se preocupava em ter e nem com o que os outros tinham, mas, em ser um ser humano de luz e alegria. Que devemos aprender com a vovó Nair que fazia o que dava na telha, apesar das críticas e recomendações, de quem achava que sabia o que era melhor pra ela. Ela só queria ser feliz e aproveitar a vida até o talo, mesmo que para isso, ela tivesse que pegar o metrô com a tia Alzira, para comprar uma cabeça de alho na feira, ou "surrupiar" um gole de Whisky das garrafas da Elaine. rsr  Percebi que devemos aprender com o Tio Jurandir que brincava, amava e cantava sempre que o clima estava pesado, trazendo sol a um tempo chuvoso. Ele tinha respeito e consideração por tudo que era vivo e com isso trazia vida a todos ao seu redor. 
Aprendi que nunca devemos nos esquecer dos que se foram, que jamais devemos ignorar, menosprezar ou deixar para depois a presença dos que ainda estão ao nosso lado e que devemos sempre dar alegria e amor aos que nos cercam. Será que vale a pena nos prendermos em uma caixinha de controle se temos um horizonte de possibilidades para experimentar?


Kathia Priscila 13/05/2012